Jesus Camp é um documentário (indicado ao oscar) que mostra um acampamento infantil no interior dos Estados Unidos onde as crianças tem um doutrinamento parecido com a do exército apenas para viver de acordo com os anseios de pais fanáticos e de dogmas religiosos, ainda que muito (ou na totalidade) do que é mostrado no decorrer do filme não faz jus a nenhuma religião que se denomine cristã.

O que não falta hoje em dia são exemplos de barbáries feitas “em nome de Deus”. Independente de qual deus seja, as religiões tem sido palco para diversas manifestações  que nos assusta pela falta de conhecimento e pelo fanatismo de cada indivíduo. E o mais engraçado de tudo é que, por mais que se fale mal dos preceitos religiosos orientais, nós do ocidente somos conhecedores de diversos tipos de segmentos religiosos que chocam pela forma como os seus líderes influenciam, modificam o estilo de vida e fazem uma verdadeira lavagem cerebral nos fieis. Não vou citar nomes nem denominações de igrejas, mas o que não falta hoje em dia são verdadeiros charlatões usando do poder de fácil manipulação das pessoas e abusando e extorquindo tudo o quanto puder.

Voltando ao documentário, o filme começa com um culto infantil numa igreja protestante, onde uma senhora que se intitula pastora, chamada Becky Fisher, ministra pra dezenas de crianças, muitas delas acompanhadas de seus respectivos pais, que assistem a manipulação e a lavagem cerebral de seus filhos sem ao menos perceber que estão os prejudicando. A partir daí, o documentário se desenrola sobre o acampamento que ocorre todos os anos, no interior dos Estados Unidos, intitulado “Kids on fire” (isso mesmo, “crianças em chamas”), onde essas mesmas crianças que decidem ir, passam dias em palestras feitas exclusivamente para assusta-las, doutrinando-as para não “pecar” (isso se uma criança de sete anos for considerada pecadora) e não fazer aquilo que desagrada a Deus. Qualquer coisa é motivo de amedontra-las, desde ver Harry Potter até falar com alguém que não seja evangélico. Tudo isso sob os olhos atentos de alguns pais que acompanham seus filhos ou dos próprios idealizadores dessa façanha, que mais no final mostra a sua real intenção, que passa longe de preceitos bíblicos.

O que mais chama atenção no documentário, além das cenas chocantes onde crianças são manipuladas da forma mais cruel possivel, é a imparcialidade dos diretores, que em momento algum dão seus julgamentos sobre o que acham de tudo aquilo. Mostram os dois lados da moeda, onde vemos todos os cultos idealizados pela pastora e também podemos ver a opinião de um radialista que a todo momento fala sobre a periculosidade desse tipo de doutrina em seres tão pequenos e sem a mentalidade necessária para absorver tanta informação.  Não sei se essa foi a forma que os diretores encontraram de fazer o documentário sem arranjar nenhuma confusão por parte dos mentores por trás do acampamento, mas foi a forma mais sábia que eles acharam de montar um verdadeiro documentário, onde não há um certo ou um errado. Acho que isso nem precisa ser mostrado, dado a forma em que nós somos totalmente imersos no dia a dia daqueles pequenos inocentes que são jogados em um mundo de temor, apreensão, angustias e medo de pecar. É impossível não se comover com o choro sincero das crianças pedindo perdão por seus pecados.

Por fim, o documentário se desenrola até mostrar a real intenção da cúpula desses ditadores que se intitulam pastores. Em um dado momento do filme, uma mulher mostra um George Bush de papelão e pede para que todas as crianças intercedam pelo presidente. No outro dia aconteceria uma votação muito importante que modificaria os preceitos religiosos e não agradaria nenhum pouco os fundamentalistas. É aí que o documentário nos direciona uma pergunta: Seria o Estado realmente laico? A resposta segue com a transmissão do rádio do carro da Becky Fisher. Vitória dos fundamentalistas. Não, a resposta é não.

Terminando o filme, fica um sentimento de revolta, ainda mais pra quem é evangélico. Além de revolta, tristeza. Saber que o verdadeiro evangelho tornou-se hoje nessa coisa terrível, que não se contenta em afrontar apenas os mais velhos, mas até as crianças, instrumentos fáceis nas mãos de quem sabe manipular. E os que foram mostrados no filme sabiam muito bem.

“God is watching us and God has a very special place for thosepeople who mess with our children, it’s not a pretty place.”